domingo, abril 13

A tarde desenhava-se como outra qualquer de primavera. Tinha acabado de chegar de viagem quando a ouvi fechar a porta com força. Sentia-a deambular pelas divisões da casa como um cão preso no quintal, revoltado por estar fechado, preocupado em perceber qual seria o melhor lado para conseguir um salto certeiro sobre a vedação. Sem mais demoras rompeu pelo meu quarto! A senhora tristeza vinha com um ar determinado mas com um aspecto consumido de quem tem algo muito importante a dizer mas que não sabe como.
“Vem comigo”, disse ela!
Queria lhe dizer que não me apetecia, que tinha acabado de chegar de viagem e que a última coisa que queria fazer era andar ao ver se me apanhas com ela. No entanto a curiosidade não me deixou! Puxou-me da cama com as suas mãos meigas e fez-me uma festa na cara. Nem reparei que ela também ali estava conosco naquele quarto. Ao lado da senhora tristeza fica tão pequenina e frágil que é impossível negar-lhe alguma coisa. Fico sempre com vontade de a abraçar, de a beijar, de a mimar, quando a vejo!
Lá partimos os três. À frente ia a senhora tristeza com o seu passo acelerado, seguida da linda curiosidade aos saltos e a cantarolar algo que não me era estranho mas que eu não conseguia entender bem devido à distância que existia entre mim e ela.
Fui o último a chegar, claro está! Fiquei surpreso quando olhei para aquele cenário. Não contava nada que fosse aquele o sítio onde a senhora tristeza me queria trazer.
“Observa bem!”
Estávamos no passado, na tua cozinha. Nela estavas tu e ele. As palavras voavam em círculo em cima das vossas cabeças. Eu adoro-te, Gosto muito de ti, Fascinas-me, O que era de mim sem ti? Tocavas-lhe no cabelo enquanto roçavas a tua face na sua cara meiga, escondida por baixo daquela barba lisa e fraca que tanto gostavas. E que ainda gostas.
“És tão fofo, sabias?” - dizias tu.
Olhei para a Senhora tristeza. Não precisou de abrir a boca. Percebi exactamente porque é que ela me trouxera ali. O que sou eu para ti? De que maneira é que te preencho? Como é que uma caixa vazia como eu te pode fascinar?
De repente deixei de conseguir ouvir os meus pensamentos. Começou a chover. Sei que a senhora tristeza aproveitou para se desfazer em lágrimas e confundiu-se com a chuva que caia com força na minha cabeça. Da curiosidade não existia nem rasto. Presumo que tivesse ido jogar à macaca com alguém. Ficara ali sem conseguir pensar e sem ninguém para me levar a casa. Não conseguia ver nada à minha frente. Decidi ficar quieto na esperança de aquilo ser tudo esquema do Lorde Ciúme!