terça-feira, abril 26

Vi um filme recentemente, leve, daqueles do género de domingo à tarde mas um bocado melhor. Não tinha grande história porém houve uma certa passagem que me fez reflectir e ficar a pensar nisso durante uns tantos dias. Resumindo muito rapidamente o filme, diga-se que a história anda em torno de um triângulo, prisma ou paralelipipedo amoroso, onde um rapaz está prestes a casar-se com alguém que não o cativa, sobre os olhos atentos de quem realmente gosta e o faz respirar e escrever. Engraçado que a dada altura este foge por uns momentos com o "seu mais que tudo", que só por acaso é dama de honor da respectiva noiva, e nessa rapidinha conseguem proferir uns quantos argumentos que me fizeram questionar a mim próprio. Não percebi exactamente se ambos eram escritores, mas a verdade é que ambos confessam que o que os fazia escrever e o que os inspirava era o que existia entre eles, o que conseguiam dizer um sobre o outro. Passam-se mais umas cenas e chega o momento exacto do casamento, e na altura da troca dos "votos" o talentoso escritor não consegue dizer nada sobre a noiva, absolutamente nada.

Eu sei precisamente para quem escrevo e o porque escrevo e pergunto-me, será que conseguia escrever para mais alguém?

quarta-feira, abril 20

Os lamentos da certeza

Lá está, juntámos o raciocínio ao sentimento. Tudo o que disse da minha parte foi sincero, da tua foi da boca para fora. Argumentas que não dizes nada sem teres a certeza do que falas o que não te impede no entanto de o dizer. Vá, não cai mal e sempre se vai aguentado a situação. Usas uma verdade para contar uma mentira, significa que no final das contas aprendeste a fazer o somatório das circunstâncias. Metendo as contas de lado, já que os trocos pouco me dizem, concentremos-nos nas boas razões que existiram para fazer do mundo uma coisa doce, ou os poucos cêntimos que restam dele na economia do sentido.
Foi um amor do caraças!
Foi magnífico e nunca atingiu o máximo na sua plenitude.
Rimo-nos imenso, chorámos também, mas poderíamos ter feito ainda mais.
Tive de aceitar
aceitar não, tive de tomar como facto
que já existia alguém antes e agora tenho de de encaixar que já existe alguém para depois.
Um outro amor, muito superior a este
e tenho de me aguentar para não ir abaixo, porque quando estamos emaranhados neste fio de ouro esquecemos-nos que valemos mais que este pedaço de moeda ou peça de troca.
Não podemos julgar que só existe esta bolsa e não é prudente meter tudo em cima da prateleira e despachar logo a mercadoria sentimental
Em boa verdade nunca fui muito bom economista e sempre me fascinei por um ou outro mercado, então contigo dei quase sempre o melhor
Mas o melhor neste tipo de amor não tem uma cota muito avultada e já encontraste produto melhor no mercado internacional
Não se pode competir justamente nestas coisas à escala global
Ainda assim foi um amor do caraças, julguei crer
e enquanto uma pessoa não cresce ainda crê em muito
e tudo o que são crenças elevadas ao "expoente da loucura" dão em recalcamentos brutais
e a infindáveis lamentos da certeza que tudo teria de caminhar para um fim.
Digo isto ao som de uma canção mas resta-me saber se a sinfonia do teu instrumento toca ao mesmo ritmo
desejo profundamente que não seja o caso
No entanto não fico para assistir a essa tipo de concerto, mas oferece-me o bilhete que já é de bom tom.

terça-feira, abril 19

Interregnos do amor

Estou convicto que só um grande amor pode ser capaz de criar tamanha tristeza.
Na ausência do primeiro, quando este parte para lutar nas fronteiras do sonho e da realidade, predomina um ser ou um sentir que é rigorosamente composto pelo nada, pelo vazio.
Esse algo é mais que um sentimento, é uma razão
e muitas vezes um conjunto delas
o que torna estranhamente estranho ser sensível e ser racional ao mesmo tempo.

Estou convicto que só um grande amor pode ser capaz de criar essa enorme tristeza
como estou convicto que se alguém é responsável pela primeira será igualmente responsável pela segunda.
Os interregnos do amor têm destas coisas
infortúnios semelhantes às dinastias de outrora, sucumbidas na desigualdade das batalhas.

Caiu por fim de joelhos a valente bandeira.

quarta-feira, abril 13

Quem faz perguntas obtém respostas...

... e foi por isso que sempre tive algum receio de as colocar na mesa, ao género de um cartomante que defronte das cartas se prepara para as virar e com as suas palavras tirar a roupa ao destino. Posso dizer que a suspeita era grande mas não andava de mãos dadas com a curiosidade ou interesse. Não ganharia nada em fazer perguntas, pensava eu, porém confesso que não tinha ainda a noção do que estava a perder
e perder pode não ser o mais adequado para esta conversa até porque há termos bem mais carregados de sentido
Devassidão seria um deles
Libertagem ou depravação de costumes, sinónimos à letra, que afinal fazem ou fizeram parte de ti.
A petulância das tuas acções vestiu-se a rigor para a fotografia das tuas expressões, e ficaram bem, ao ponto de fazerem parte da eternidade
adoravelmente minha.

Não creio em visionários de alguma espécie ou em juízes de praça, no entanto não fui eu quem fez as perguntas, mas fui eu que levei com respostas que me mancharam a vista e deixaram o destino com aspecto de alguém que acabou de ser violado.