sábado, fevereiro 27

Desaparecer

Não ando mais desaparecido que o normal. Percebo que não sejas capaz de me ver bem aqui ao teu lado, num mundo paralelo. Sem sentimento de pertença não se enche o casulo da existência, e então à tua e à vossa lógica não existo, no entanto quero invocar a velha máxima se penso logo existo. Oh, e se tenho pensado. Se existisse um valor absoluto para ser pessoa não sei quantos de mim existiriam.

Talvez assim desapareça no meio deles todos.

Não existem vitórias. A vida é um somatório de dias perdidos.

É lugar comum deixarmos ou esquecermos-nos de alguma coisa quando decidimos partir. Não meteste na mala o cheiro que na cama ficou, o cheiro a ti.
Ainda bem que partis-te assim, descaracterizada!

quarta-feira, fevereiro 3

Não te via à tanto tempo que só agora tive noção de como estava diferente. Para ti não foi surpresa. Cuidas-te de mim desde muito novo, sempre à espreita, encostada à ombreira da porta com cuidado o suficiente para não entrares no meu mundo mas também para nunca te afastares dele. Oh, mas ele cresceu e eu coloquei-me a um canto muito afastado de ti, perto de uma janela, sempre pronto a abri-la e a saltar quando me sentisse muito apertado, se a divisão começasse a abarrotar de gente, de gente boa e de gente má. Não te terias importado se o fizesse pois sabias que não me irias perder de vista facilmente, e logo eu, que tanto gosto de pular acima da multidão, não fosse o facto de teres vindo a piorar da vista. Ainda assim dizes que gostarias de me ter apresentado a tua filha, que seria a pessoa mais extraordinária para tomar conta de mim e eu a melhor pessoa para tomar conta dela. Extraordinária és tu, razão por acredito que sejas tu a responsável para hoje ser apaixonado pelas coisas belas. Tu, maravilhosa pessoa, deusa mulher. E deixaste-me alguns concelhos.

João, as aves voam muito mais vezes em bando que sozinhas e todas elas têm um ninho. Vai dando notícias sim?
Yes maam!

terça-feira, fevereiro 2

Somos livres de dar valor àquilo que quisermos. Mais que uma escolha é uma certeza, uma convicção que tanto podemos estar a ser justos como injustos.
Intolerâncias das opções portanto.

segunda-feira, fevereiro 1

"A que horas partes?" Sinopse de um conto

A história começa com eles na cama. O que é que ele faz, ainda não sei. O que ela faz ainda estou para descobrir. Deviam-se ter encontrado no mesmo comboio, à mesma hora, porém tal não aconteceu, coisa que só agora se apercebe, naquele suave gesto, com aquele doce arfar.

Ela pergunta, A que horas partes?
Ele responde, A que horas chegas?

Nenhum dos dois sabe onde vai, ambos persistem em ir.
Se serão de dois locais opostos do mundo, certamente. Para ele devia nascer o dia, para ela já chegou a noite e no entanto tudo é claro.