terça-feira, agosto 30

A brincar com os animais lá de casa!

Fico triste quando perco pessoas que gosto muito, já que eu não gosto assim de tanta gente. Não terá somente a ver com quem se perde, mas com o que tu perdes de ti próprio. Ninguém tem o direito de nos magoar, e se é feito de uma forma desonesta pior ainda, mas não é o caso. Lamento o mundo não ser mais justo para que as coisas se tivessem proporcionado de outra forma e que tivéssemos tido hipótese de não ter morto a coisa deste género, à facada.
Facada foi precisamente isso que me espetaram no coração. Um facada com uma lâmina onde se podem ler as palavras escritas "foste um erro enorme" e "nunca estive apaixonada por ti".
Enquanto observo o sangue a escorrer-me pelo peito abaixo percebo que as paixões são normalmente feitas a um, não vêem aos pares. Comparo a situação áquilo que as crianças fazem por vezes aos animais. Dão-lhes umas pauladas porque é divertido até que o animal morre. Abismadas e irritadas pegam nele, abanam-o e gritam mexe-te, porque não te mexes? Mãe, o bolinhas deixou de se mexer.
Pois eu choro pelo animal, por aquilo que morre. Não vale a pena fazer-lhe respiração boca a boca que o bicho não se volta mexer mas tenho a certeza que o próximo espécie não será muito diferente deste, mas enquanto houver animais em casa não se compra mais nada, diz a mãe.
Porém paremos para pensar, o que é que a criança sabe do animal para poder ter outro igual? Quantas vezes brincou com ele? Quando foi a última vez que isso aconteceu?

O que é que sabes sobre mim se já não me vês à tanto tempo? Porque é que apesar de estares tão convicta nas tuas decisões, embora nada tenha corrido como pensaste, existe algo que te faz pensar em mim? Porque é que ainda há saudades? Saudades do quê?

Não fazes ideia e também não vale a pena pensar mais nisso. Não tens culpa e deixemo-nos já de excesso de dramatismos. Além de ti houve montes de pessoas que fizeram por ta meter na mão e disseram mata mata. Quando chegaste já cá estava à tua espera, em cima da mesa, e em vez de ter dois nomes só tinha um para facilitar a coisa, não te fosses tu enganar.

Recordo-me das coisas boas.
Lembro-me da primeira vez que estive contigo, no sofá de minha casa. Tenho um álbum de fotografias tuas na minha memória, de grande parte dos teus gestos, de quase todos os teus movimentos.
Considerei esse momento como um ponto de partida. Acreditei que teríamos criado um elo e que nos preparávamos então para descobri-lo e vivo-lo. Entre o que se acredita e o que a realidade aspira vão um conjunto disperso de cheiros e sabores, e talvez saberes.
O teu passado meteu-se à mistura e disse porque é que te estás a meter com ele e não ficas comigo? Eu é que estive lá nos teus momentos mais difíceis, achas justo deixares-me assim?
Parece que não achaste e continuaste assim por ai além, a seguires-te sempre pelas suas palavras, sem me explicares ou me dares um cartão de visita dessa tua situação.

Como disseste uma vez e muito bem, existem modelos. Esses modelos só deixam de existir quando são descontinuados e surgem outros melhores. Ora de para além trazeres contigo modelos muito antigos, peças de colecção, não há de todo qualquer comparação possível comigo.
Sou de série única, não existem muitas reproduções de mim espalhadas por esse mundo fora logo não me podes tirar as medidas.

Recordo-me das coisas boas, passados inacabados onde existiu o desejo mas onde a razão foi sempre mais forte. Sim, não podes nem queres largar com quem estás à tanto tempo e por isso e muito mais, descartas-me. Só aquela pessoa te faz feliz, só por ela é que choras e ficas triste quando a deixas, e se na realidade assim não o é, alguém o faz crer que seja.
Por isso recordo-me das coisas boas que foram para mim, porque para ti só há memória de terem sido grandes erros.

Recordo-me...

terça-feira, agosto 16

Não pode ser suor, não pode ser odor, mas é algo que me ofende a narina.
Existe uma certa textura que preenche o ar que me leva a pensar em coisas ditas deprimentes.
Eu não sou assim.
Não é isso com certeza que se quer transformar do meu pensamento.
Como é possível que essa linguagem tenha predominância ou prioridade nas palavras que fazem fila para sair da minha boca?
Como é que coisas que me ocorrem como és tu que fazes do meu ver e sentir algo equilibrado, em perfeita sintonia com o simples preto e o simples branco, pode-se tornar em algo negativo e ser visto como algo triste.
Como é que as formas que encontro para dizer que gosto de ti se relevam sempre inoportunas e deslocadas, quando na realidade apenas se pretende elevar essa palavras em toques e trocas de carícias.
Se a imaginação tivesse sempre a sua representação feita em palavras seria possivelmente uma péssima dramaturga. Pois isto não é um drama... São sinceras manifestações entre duas pessoas que se recusam a fazer disto uma bela pintura.

segunda-feira, agosto 15

Invenções do Homem

Existe quem defenda que o tempo é uma invenção do homem. Usamo-lo normalmente contra nós, para criar angústias, para despertar ansiedades, para dissimular e diminuir a alegria, contabilizando os minutos que faltam para ela terminar ou pior ainda, para dizer por quanto tempo ela durou.
O tempo, já eu sabia, é um inimigo.
Sempre o foi, contudo julguei que ao ignorá-lo era capaz de o deixar mais fraco, mais inerte, recortar a sua cara e colar a tua e elevá-lo até à eternidade.
Olha pois merda, cheguei tarde demais para fazer parte da tua vida e e cedo demais para me poderes dar uma hipótese de amar, e às vezes parece que ainda olhas para mim como se eu tivesse a culpa, fazendo por me descartar ao minuto.
Não tão cruel como contabilizar a alegria, é contar as horas de tristeza. Dar espaço à dor, essa coisa que realmente inventámos nós, é desonesto e injusto no que se trata a eu e tu.
Porém a vida continua ao sabor do relógio, com tudo o que nos espera e aguarda de bom, com minutos, horas, dias e talvez semanas, e pergunto-me, por quantos anos será que vou eu viver a pensar que nunca tive o direito de te ter?