quinta-feira, março 4

Noites em branco

Tal como os grandiosos guerreiros de outrora que em campos de batalha acabaram por tombar, da mesma forma um borrão de tinta sobre as folhas da minha consciência assim foi acabar.
Malditas insónias que de branco não têm nada.

As desilusões mancham-me o papel virgem, os lençóis impuros, o edredão conspurcado, as paredes coscuvilheiras, o tecto trabalhado, onde violentas pingas sem piedade ao chão fazem questão de esmurrar, levando-me então avassaladoras pegadas deixar, quando ao abrigo do desespero me levanto para mais um tresmalhado copo de água à boca levar.
Maldita tinta que mais te assemelhas a uma pessoa.

Abraças-me como uma vadia e afinal tens poiso onde matar o ócio, tal como as pessoas, que por mais que andem à tuna acabarão por debaixo de um pedaço de terra se deitar, tal como tu, que por mais interesse que me possas despertar, acabas pelo encanto de uma noite me tentar enganar.
Maldita noite que teimas em não virar dia.

Mas o dia vai chegar, e com ele serás obrigada a mostrar-te. Seca sobre aquilo que te decidiste atirar, oh mulher, terás força para um última coisa dessa tua infame boca soltar:
Maldito sejas tu, que a mim decidiste deixar de amar.