sexta-feira, abril 23

Conta-me histórias

Vi o que ele viu, o navio à sua frente. De velas abertas senti o que ele sentiu, a forte brisa em sua direcção. Ouvi o que ele ouviu, o fervoroso barulho das ondas a bater no casco. À popa o sabor a sal, o sabor que me chegou ao paladar e que chegou ao paladar dele. Capitão, por quanto mais tempo iremos nós perseguir aquele navio, perguntei. Até à eternidade se ela existir, respondeu de olhos fixos nos horizonte. Tenha pronto o canhão marujo e deixe-se de perguntas idiotas. Está pronto Capitão, precisamos somente de saber que mensagem é que lhe pretende enviar. Escreva, Eu também sou livre mas podemos parar juntos aqui. Haverá sempre mar para navegar.

Ouviu-se um estrondo e um objecto em forma de bola salta no sentido do navio à nossa frente chegando ao seu destino com uma prontidão perfeita. Em menos de um minuto uma mensagem de volta voa em nossa direcção, e com a mesma exactidão caí aos meus pés. A mensagem marujo, dê-ma imediatamente, gritou o Capitão. Percebi o que ele percebeu, sabíamos o que esperava ao navio da frente. O Adamastor já nascia ao fundo e era dos piores que poucos tinham tido oportunidade de conhecer. Era meigo, de feições amigáveis, mas um falso da pior espécie e matreiro como um lobo. Que mensagem lhe enviamos Capitão? Com ar determinado e sem desviar o olhar do seu propósito, responde Navega meu amor, Navega. Mais tarde ou mais cedo encontrarás a ilha que tanto procuras.

Pum!

Atenção ao vento. Icem outra vela. Mexam-se marujos que estamos a perde-lo de vista. Espera-vos o gosto do chicote se tal acontecer. Sim Capitão, gritei eu em prol de todos.