quinta-feira, novembro 19

Vai fazer pontaria para o caralho!

Estavam não sei quantos gatos no telhado do restaurante atrás de minha casa.
Estavam dois juntos a dormir do meu lado direito e outros três à minha frente, com dois deles igualmente a dormir e o outro a olhar para sabe-se lá onde.
Eu? Eu estava à varanda.
Estavam mais dois deles um pouco alheios deitados do meu lado esquerdo onde se encontrava também um que não devia estar.
Esse que estava e que não devia estar, estava a olhar para mim com um ar pouco atrevido, passageiro até. À distância que me encontrava conseguia perceber perfeitamente que o seu olhar acabava onde começava um movimento meu. Com o braço erguido em sinal de provocação ainda lhe perguntei o que é que queria na esperança de ser surpreendido por um gato que fala, mas sem sucesso. A minha intervenção serviu-lhe de pretexto para se pôr a andar. Foi nesse momento que percebi que o gato tinha uma perna ferida e que a minha presença o assustou desde a primeira troca de olhares, o que o levou a ir ao encontro de Deus Nosso Senhor que naquele tarde dava autógrafos na tasca ao fundo da rua.
Deitei fora a pequena casca de noz que tinha na mão e com a qual tinha fisgado a cabeça do gato. Precisamente esse gato. Amaldiçoei a vida enquanto me dirigia para o quarto. Que mania temos nós de magoar aqueles que já se deparam com o corpo esfolado, que já se deparam com a tela saturada de encarnado!