segunda-feira, janeiro 18

(...) (parte 1)

Estava sentado na tasca do costume e conversava com o Óscar debaixo de alguns olhares persistentes e perplexos que se questionavam com quem estaria eu a falar. Não percebia aquele ar espantado das pessoas que se concentravam na nossa conversa quando existem uns quantos que se deslocam a sítios sagrados para se meterem aos berros com alguém que é bem menos real e que se está a borrifar para o raio dos seus bracejos, mas permitam-me portanto descrever o "anormal" diálogo que ouviam esse tipo de criaturas ditas normais.

Óscar, porque é que não paras de olhar assim para mim?
Ah, como gostava de ser novo e bonito. A vida está para vocês juventude. És o meu orgulho sobrinho.
Isso não é nada assim. Deixa de ser parvo e enche lá o copo outra vez.
É verdade, dizia-me ele enquanto deixava cair o líquido no copo meio vazio, Já viste alguém perder 5 segundos a olhar para mim?
Óscar pah, tu estás morto como é que queres que alguém te foque se nem com uma grande angular te captávamos esse espectro?
A última miúda com quem tive uma relação foi a Morte, desabafou, E já foi há algum tempo.
Eu também e fiz-lhe um filho!
Foi? E que nome lhe deste?
Paixão Paixão!
Porquê a dobrar?
Porque um mal nunca vem só!
Nem um bem, retorquiu!
Precisamente, é um ser dúbio. O que é que esperavas vindo do ventre da Morte?
Talvez tenhas razão. Deixa estar que eu pago. Levantou-se e dirigiu-se ao Diabo para pagar a minha e a sua dívida.

Pobre Óscar, nunca tem dinheiro. Não o devo voltar a ver tão cedo.