terça-feira, maio 18

A falta é um cartão de visita para algo que está para vir e que possivelmente não sabemos bem o que é na altura. Se ela não existir, significa que nada está à nossa porta, que nos é indiferente que a campainha toque, que não sentimos a vontade frenética de estarmos sempre prontos para nos levantarmos para a abrir. As sensações de afecto, creio eu, são muitas vezes vistas como uma necessidade, seguem um propósito ou talvez um fim, para meu triste deleite. Quando as manifestações ou gestos por nós provocados perdem o interesse deixamos no instante de ser importantes e somos remetidos para mais um caixote, não para sermos guardados no sotão mas para sermos guardados na cave, porque é sempre mais fácil descer do que subir, e só de pensar que temos de descer para depois subir, deixamos simplesmente de lá ir, pois não vemos utilidade nem sentido no efeito. É por isso que acho que tudo o que vem também se vai, e há sempre quem se venha pelo meio, e eu nunca me arrependo do que veio, mas fico constrangido por aquilo que poderia ter vindo, pelo menos de bom a acontecer.

Eu não vejo o afecto como uma necessidade, vejo-o como um inutilidade maravilhosa, e é por essa falta que me vejo de pé encostado à porta, à espera do que virá...