sábado, dezembro 31

Ao meu avô

Esta altura do ano tem por norma sensibilizar as pessoas. Eu já sabia que o meu avô não andava bem, e que passar o natal com ele já seria complicado. Não sabia com certeza que teria de ir ao hospital para lhe desejar felicidades, se é que elas fazem algum sentido quando alguém se encontra internado com poucas possibilidades de recuperação. Esforcei-me para lhe arranjar uma prenda no natal, esforcei-me agora que o visitei por lhe dizer algo de bom, entre uma piada que se solta e uma lágrima que cai disfarçadamente, e foi algo que mexeu comigo. Admiro a coragem da minha mãe - invejo-a para ser correcto - e desejo ter um décimo de força que ela tem porque assim que entrei naquela sala e vi o meu avô naquele estado duvidei se algum dia eu conseguiria suportar aquilo, se não passaria de um inútil que bloqueia nestas situações. Aguentei-me e consegui perceber o quanto importante é comunicar, já que não conseguimos entender nada do que o meu avô diz devido à sua doença. Não conseguimos perceber se ele diz que gosta de nós, se nos odeia, se algo lhe magoa, se enfim, quer manifestar as suas últimas vontades ou últimos desejos.

Eu não lhe consegui dizer nada, ele tentou dizer montes de coisas.
Ao meu avô, por tudo o que fica talvez por dizer deste mundo estranho.